“A morte não é nada” – o famoso poema de Santo Agostinho sobre a morte (que ele nunca escreveu)

A “Morte não é nada” é um famoso poema / oração de Santo Agostinho sobre a morte, só tem um detalhe: ele nunca escreveu este poema.

A morte não é nada, poema de Santo Agostinho sobre a morte (que não é realmente dele).
Jesuíno do Monte Carmelo (atrib.) – Santo Agostinho | Domínio público.

Se você é uma pessoa cristã ou tem mesmo só um pouquinho de interesse pelo tema, certamente já ouviu falar de Santo Agostinho. Talvez, mesmo que não seja o caso, você lembre do nome. Afinal, ele foi um dos mais importantes escritores e filósofos da Idade Média e estudamos sobre ele na escola! 

Talvez, então, você já tenha ouvido falar ou lido por aí sobre o famoso poema de Santo Agostinho sobre a morte, chamado “A morte não é nada”. Trata-se de um dos poemas mais famosos sobre a morte. 

“A morte não é nada”

A morte não é nada.
Apenas passei ao outro lado do mundo.
Eu sou eu. Você é você.
O que fomos um para o outro, ainda o somos.
Dá-me o nome que sempre me deste.
Fala-me como sempre me falaste.
Não mudes o tom a um triste ou solene.
Continua rindo com aquilo que nos fazia rir juntos.
Reza, sorri, pensa em mim, reza comigo.
Que o meu nome se pronuncie em casa
como sempre se pronunciou,
sem nenhuma ênfase, sem rosto de sombra.
A vida continua significando o que significou: continua sendo o que era.
O cordão de união não se quebrou.
Por que eu estaria fora dos teus pensamentos,
apenas porque estou fora da tua vista?
Não estou longe, somente estou do outro lado do caminho”

O poema de Santo Agostinho sobre a morte… É realmente de Santo Agostinho?

“A morte não é nada” é um poema belíssimo… O único porém é que o famoso poema de Santo Agostinho sobre a morte não é realmente de Santo Agostinho. E também não é um poema, mas parte de um sermão!

Assim como acontece com outros escritos famosos, ao longo da história se criou um certo mito sobre a autoria. 

O verdadeiro autor é Henry Scott Holland, um clérigo, religioso cristão e professor inglês que viveu na virada do século 19 para o século 20, bem mais de um século após a morte de Santo Agostinho!

O poema é, na verdade, parte de um sermão intitulado “The King of Terrors”, que ele pregou na St. Paul’s Cathedral em maio de 1910, após a morte do Rei Eduardo VII. No sermão, Holland refletiu sobre a morte e tentou confortar aqueles que estavam de luto.

A versão em poema que se popularizou na tradução em português, no entanto, tem algumas diferenças do trecho do poema. 

O sermão de Henry Scott Holland

No sermão, Holland disse, em inglês:

“Death is nothing at all.

It does not count.

I have only slipped away into the next room.

Nothing has happened”.

Uma tradução bastante literal possível seria:

“A morte não é nada. 

Ela não conta.

Eu apenas escorreguei para a sala ao lado.

Nada aconteceu”.

Como podemos ver, o poema atribuído a Santo Agostinho é extremamente parecido com o sermão do religioso britânico, ainda que não seja idêntico. A origem da versão que ficou famosa em português, no entanto, é desconhecida.

Fazendo uma pesquisa no Google é possível observar que a versão de que este poema seria de Santo Agostinho se popularizou bastante entre os brasileiros por algum motivo. Diferentemente, quando procuramos por resultados em inglês, a maioria dos sites trazem o poema/sermão com autoria correta. 

Em alguns outros sites é possível encontrar também o poema sendo creditado a Allan Kardec, o “pai” do espiritismo contemporâneo, o que também não é correto.

Bem, embora “A morte não é nada” não seja do santo, filósofo e teólogo mais famoso da Idade Média, nada muda que o poema é belíssimo, não é mesmo?

Então, de onde vem a confusão? Por que o texto de “A morte não é nada” é atribuído a Santo Agostinho?

Mesmo fazendo uma boa pesquisa no Google, em sites de universidades de teologia e outros artigos, é bastante difícil reastrear a origem dessa confusão toda.

Uma hipótese aparece no blog Living And Giving, em que a autora ressalta que o sermão de Holland tem semelhanças com ideias e conceitos que aparecem em cartas que Santo Agostinho consolou pessoas que estavam em luto e aborda a ideia de que a pessoa que partiu ainda está ali, que a morte, nesse sentido, “não importa”.

Veja um pouco mais sobre o que Santo Agostinho realmenteb deixou escrito sobre a morte.

O que Santo Agostinho realmente escreveu sobre a morte?

Apesar de não ter escrito “A morte não é nada”, Santo Agostinho deixou vários escritos sobre a questão da morte e da nossa finitude. Confira alguns trechos.

Confissões

Em suas “Confissões”, Santo Agostinho medita sobre a vida, a morte e a eternidade. Um trecho famoso é:

“Aquele que criou você sabe o que fazer com você. O Criador do céu e da terra pode fazer novos céus e uma nova terra. E o que você foi, não morrerá, mas será transformado. A sua vida será sempre renovada, sempre nova, sem nunca envelhecer.”

A Cidade de Deus

Em “A Cidade de Deus”, Santo Agostinho discute a morte e a ressurreição:

“Certamente, o Senhor, que é a nossa esperança, saberá reconstituir nossos corpos a partir das partículas mais ínfimas e dispersas, e o fará com facilidade. Não será mais difícil para Ele do que foi formar esses mesmos corpos pela primeira vez.”

Sermões

Em vários de seus sermões, Santo Agostinho aborda o tema da morte. Por exemplo:

“Não devemos nos lamentar como aqueles que não têm esperança. Pois, assim como Cristo morreu e ressuscitou, assim também Deus trará de volta à vida aqueles que dormiram em Jesus.”

Carta a Proba

Nesta carta, Santo Agostinho escreve sobre a morte e a confiança em Deus:

“Não devemos temer a morte, pois a vida eterna nos aguarda. Confie em Deus, que nos prometeu a ressurreição e a vida eterna. Se permanecermos em sua graça, não temos nada a temer.”

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