A “Morte não é nada” é um famoso poema / oração de Santo Agostinho sobre a morte, só tem um detalhe: ele nunca escreveu este poema.
Se você é uma pessoa cristã ou tem mesmo só um pouquinho de interesse pelo tema, certamente já ouviu falar de Santo Agostinho. Talvez, mesmo que não seja o caso, você lembre do nome. Afinal, ele foi um dos mais importantes escritores e filósofos da Idade Média e estudamos sobre ele na escola!
Talvez, então, você já tenha ouvido falar ou lido por aí sobre o famoso poema de Santo Agostinho sobre a morte, chamado “A morte não é nada”. Trata-se de um dos poemas mais famosos sobre a morte.
“A morte não é nada”
O poema de Santo Agostinho sobre a morte… É realmente de Santo Agostinho?
“A morte não é nada” é um poema belíssimo… O único porém é que o famoso poema de Santo Agostinho sobre a morte não é realmente de Santo Agostinho. E também não é um poema, mas parte de um sermão!
Assim como acontece com outros escritos famosos, ao longo da história se criou um certo mito sobre a autoria.
O verdadeiro autor é Henry Scott Holland, um clérigo, religioso cristão e professor inglês que viveu na virada do século 19 para o século 20, bem mais de um século após a morte de Santo Agostinho!
O poema é, na verdade, parte de um sermão intitulado “The King of Terrors”, que ele pregou na St. Paul’s Cathedral em maio de 1910, após a morte do Rei Eduardo VII. No sermão, Holland refletiu sobre a morte e tentou confortar aqueles que estavam de luto.
A versão em poema que se popularizou na tradução em português, no entanto, tem algumas diferenças do trecho do poema.
O sermão de Henry Scott Holland
No sermão, Holland disse, em inglês:
“Death is nothing at all.
It does not count.
I have only slipped away into the next room.
Nothing has happened”.
Uma tradução bastante literal possível seria:
“A morte não é nada.
Ela não conta.
Eu apenas escorreguei para a sala ao lado.
Nada aconteceu”.
Como podemos ver, o poema atribuído a Santo Agostinho é extremamente parecido com o sermão do religioso britânico, ainda que não seja idêntico. A origem da versão que ficou famosa em português, no entanto, é desconhecida.
Fazendo uma pesquisa no Google é possível observar que a versão de que este poema seria de Santo Agostinho se popularizou bastante entre os brasileiros por algum motivo. Diferentemente, quando procuramos por resultados em inglês, a maioria dos sites trazem o poema/sermão com autoria correta.
Em alguns outros sites é possível encontrar também o poema sendo creditado a Allan Kardec, o “pai” do espiritismo contemporâneo, o que também não é correto.
Bem, embora “A morte não é nada” não seja do santo, filósofo e teólogo mais famoso da Idade Média, nada muda que o poema é belíssimo, não é mesmo?
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Então, de onde vem a confusão? Por que o texto de “A morte não é nada” é atribuído a Santo Agostinho?
Mesmo fazendo uma boa pesquisa no Google, em sites de universidades de teologia e outros artigos, é bastante difícil reastrear a origem dessa confusão toda.
Uma hipótese aparece no blog Living And Giving, em que a autora ressalta que o sermão de Holland tem semelhanças com ideias e conceitos que aparecem em cartas que Santo Agostinho consolou pessoas que estavam em luto e aborda a ideia de que a pessoa que partiu ainda está ali, que a morte, nesse sentido, “não importa”.
Veja um pouco mais sobre o que Santo Agostinho realmenteb deixou escrito sobre a morte.
O que Santo Agostinho realmente escreveu sobre a morte?
Apesar de não ter escrito “A morte não é nada”, Santo Agostinho deixou vários escritos sobre a questão da morte e da nossa finitude. Confira alguns trechos.
Confissões
Em suas “Confissões”, Santo Agostinho medita sobre a vida, a morte e a eternidade. Um trecho famoso é:
“Aquele que criou você sabe o que fazer com você. O Criador do céu e da terra pode fazer novos céus e uma nova terra. E o que você foi, não morrerá, mas será transformado. A sua vida será sempre renovada, sempre nova, sem nunca envelhecer.”
A Cidade de Deus
Em “A Cidade de Deus”, Santo Agostinho discute a morte e a ressurreição:
“Certamente, o Senhor, que é a nossa esperança, saberá reconstituir nossos corpos a partir das partículas mais ínfimas e dispersas, e o fará com facilidade. Não será mais difícil para Ele do que foi formar esses mesmos corpos pela primeira vez.”
Sermões
Em vários de seus sermões, Santo Agostinho aborda o tema da morte. Por exemplo:
“Não devemos nos lamentar como aqueles que não têm esperança. Pois, assim como Cristo morreu e ressuscitou, assim também Deus trará de volta à vida aqueles que dormiram em Jesus.”
Carta a Proba
Nesta carta, Santo Agostinho escreve sobre a morte e a confiança em Deus:
“Não devemos temer a morte, pois a vida eterna nos aguarda. Confie em Deus, que nos prometeu a ressurreição e a vida eterna. Se permanecermos em sua graça, não temos nada a temer.”
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