O luto é um processo tão complexo da psicologia humana que é natural que alguns sentimentos aflorem mesmo quando não conhecemos quem faleceu. E existe um cenário em que isso se torna ainda mais forte: o luto coletivo. Especialmente em grandes tragédias e comoções, esse sentimento é bastante comum.
Presente em diferentes culturas e momentos históricos, esse fenômeno acontece ao impactar não só os diretamente envolvidos naquelas mortes, mas toda a sociedade ao redor. O misto de tristeza com solidariedade, mesmo sem conhecer as vítimas, precisa ser entendido para que não se transforme em um problema maior.
O que acha, então, de entender o que é o luto coletivo, como ele acontece, como enfrentá-lo e quais os exemplos mais comuns nos últimos anos no Brasil? Continue a leitura para conferir!
O que é o luto coletivo?
O luto coletivo acontece quando uma grande parcela da população vivencia um processo de luto em torno de um evento específico. Diferente do luto individual, em que a pessoa sofre a perda de um ente querido ou de algo significativo em sua vida, o luto coletivo surge a partir de tragédias públicas.
Desastres naturais, acidentes aéreos, chacinas, atentados terroristas e pandemias são exemplos de eventos que podem desencadear um luto coletivo. Nessas situações, mesmo que a maioria das pessoas não tenha uma conexão direta com as vítimas, há um sentimento compartilhado de tristeza, choque e solidariedade.
Como a psicologia analisa esse fenômeno?
A psicologia vê o luto coletivo como uma forma de lidar com traumas sociais. No momento em que uma grande tragédia acontece, o impacto emocional não se restringe às pessoas diretamente envolvidas.
A sociedade como um todo sente a perda, seja por empatia ou pelo medo de que algo semelhante possa acontecer com elas. Esse fenômeno é particularmente estudado dentro das áreas de psicologia social e psicologia do trauma.
Um desses trabalhos mais marcantes aconteceu na Alemanha após o período da 2ª Guerra Mundial: Alexander e Margareth Mitscherlich publicaram o trabalho “Inability to Mourn” em 1975 sobre os processos de negação e repressão social que impedia que a população alemã lidasse com os traumas.
Os pesquisadores perceberam que o país, em vez de passar a ter um sentimento de melancolia coletiva, investiu em campanhas que impediam o início do processo de luto de toda uma geração. Hoje já se entende que as manifestações públicas de pesar, como velórios coletivos e homenagens, permitem que as pessoas se sintam parte de uma comunidade, onde o sofrimento é validado e compartilhado.
Outro aspecto importante é a capacidade do luto coletivo de promover a coesão social. Em momentos de grande dor, como uma tragédia nacional, os indivíduos se sentem unidos por um senso de propósito comum.
Esse senso de coletividade ajuda a fortalecer laços sociais, oferecendo apoio mútuo em tempos de dificuldade. No entanto, também é importante destacar que o luto coletivo pode, em alguns casos, trazer à tona sentimentos de raiva, frustração ou mesmo desejo de justiça.
Quais são exemplos de luto coletivo no Brasil?
O Brasil, infelizmente, tem uma longa história de eventos que geraram luto coletivo nos últimos anos.
A pandemia de Covid-19
Por mais que não tenha acontecido só no Brasil, a pandemia da Covid-19 teve um impacto ainda maior na população local. Afinal, foram mais de 700 mil mortos durante esse período, que já era marcado por uma insegurança geral, além da necessidade de confinamento.
O isolamento social, o medo constante do vírus e a mudança drástica nas rotinas diárias deixaram marcas profundas na sociedade. O luto coletivo neste caso não foi apenas pelas pessoas que partiram, mas também pelo tempo perdido e pelas oportunidades que nunca voltaram.
Queda do avião da Chapecoense
Mesmo quem não gostava de futebol se solidarizou com a situação: um pequeno time do interior de Santa Catarina fazia história e viajava para enfrentar a equipe colombiana do Atlético Nacional na final da Copa Sul-Americana.
A grande final, porém, nunca foi realizada: o avião da Chapecoense caiu pouco antes de fazer o pouso, matando jogadores, treinadores, dirigentes e até mesmo equipes de reportagem. A tragédia paralisou o futebol mundial por alguns dias e as cenas marcantes do velório foram históricas para todo o mundo.
A tragédia de Brumadinho
Em janeiro de 2019, o rompimento de uma barragem de rejeitos de mineração em Brumadinho, Minas Gerais, resultou na morte de mais de 270 pessoas e na destruição de uma vasta área. As imagens de devastação, de pessoas em busca de familiares desaparecidos e de rios contaminados chocaram o Brasil e o mundo.
A tragédia de Brumadinho gerou uma onda de luto coletivo, com manifestações de solidariedade em diversas partes do país. O impacto ambiental e social foi tão grande que o luto transcendeu as famílias das vítimas e se estendeu a todos que acompanharam as notícias e sentiram o peso da perda.
O incêndio no Centro de Treinamento do Flamengo
Em fevereiro de 2019, um incêndio no alojamento das categorias de base do Flamengo, no Ninho do Urubu, tirou a vida de dez jovens atletas. O país ficou em choque com a tragédia que afetou diretamente famílias e a comunidade esportiva.
A comoção gerada pela morte precoce de jovens com sonhos de se tornarem grandes jogadores uniu torcedores e não torcedores em um luto coletivo, com homenagens em estádios, nas redes sociais e na mídia.
Enchentes no Rio Grande do Sul
Em 2023, enchentes devastadoras atingiram várias cidades do Rio Grande do Sul, resultando na morte de dezenas de pessoas e deixando milhares de desabrigados. As cenas de destruição e de famílias desoladas geraram um sentimento de empatia e solidariedade em todo o Brasil.
A tragédia também trouxe à tona discussões sobre mudanças climáticas e a necessidade de prevenção de desastres naturais, ampliando o luto coletivo para além das perdas humanas, com um sentimento de preocupação pelo futuro do planeta.
Como lidar e encarar momentos como esses?
Mesmo sem uma ligação direta, alguns casos de luto coletivo podem ser bastante desafiadores, principalmente porque, em muitos casos, envolve não só a dor pessoal, mas a dor de toda uma comunidade. No entanto, existem algumas estratégias que podem ajudar a processar esses momentos.
Reconheça os seus sentimentos
A primeira e mais importante etapa é reconhecer os seus próprios sentimentos: muitas pessoas sentem culpa por estarem tristes por algo que não as afeta diretamente, mas é essencial entender que o luto coletivo é uma resposta emocional natural e válida.
Participe de rituais e homenagens
Os rituais, como cerimônias, missas ou eventos de homenagem, são formas poderosas de dar sentido ao luto. Eles permitem que as pessoas compartilhem sua dor e encontrem apoio na comunidade. Participar desses eventos, mesmo de forma virtual, pode ser uma maneira de lidar com o luto coletivo.
Busque apoio emocional
Conversar com amigos, familiares ou até mesmo profissionais de saúde mental pode ajudar a processar melhor as emoções. Compartilhar seus sentimentos e ouvir o que os outros têm a dizer pode trazer alívio e compreensão.
Pratique o autocuidado
Em momentos de luto coletivo, é comum negligenciarmos o cuidado com nós mesmos. Porém, é fundamental manter hábitos saudáveis, como dormir bem, se alimentar corretamente e fazer atividades físicas, para que o corpo e a mente tenham a resiliência necessária para lidar com o estresse emocional.
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