Luto Infantil: Como Ajudar Crianças a Lidarem com a Morte em 7 Pontos

Perder alguém que amamos pode ser uma experiência incompreensível e insuportável mesmo para nós, adultos. Imagine, então, para as crianças? Hoje falamos sobre o luto infantil.

Se você é mãe, pai ou é muito próximo de uma criança que vivenciou a perda de um parente, você tem duas missões difíceis pela frente.

A primeira é viver e trabalhar o seu processo de luto. Reprimir o seu processo de enlutamento não é o caminho para estar em condições de ajudar a criança.

A segunda é justamente, enquanto vive este luto, estar à disposição para ajudar o pequeno ou pequena a lidar com o luto infantil. O que não é nada fácil.

No nosso artigo de hoje falamos sobre um tema difícil, mas que merece nossa atenção, cuidado e carinho: o luto infantil.

1. Comunicar a perda, lidar com o luto infantil

O processo de perda é naturalmente difícil de ser compreendido por adultos. Quando pensamos em crianças e jovens, lidar com o luto pode ser uma tarefa ainda mais complicada caso não exista um bom acompanhamento por parte dos familiares.

Caso os responsáveis não ofereçam um suporte adequado, os pequenos podem desenvolver uma série de dificuldades. Portanto, é muito importante acompanhar de perto quem está passando pelo luto infantil.

Afinal, as crianças irão procurar respostas sozinhas para o que aconteceu, então, a presença de um adulto pode fazer toda a diferença.

Pensando na necessidade de ter um cuidado especial ao comunicar um ocorrido tão difícil, separamos algumas indicações muito importantes. Vamos juntos?

2. O luto infantil em diferentes idades

Antes mesmo de, é importante entender que o luto infantil se comporta de maneira diferente de acordo com a idade.

Crianças muito pequenas vão assimilar as informações de outra forma quando comparadas às que já estão chegando na pré-adolescência, por exemplo.

Diferentes faixas etárias terão diferentes especificidades

  • Até os 3 anos: nesta fase, o bebê não é capaz de compreender a morte, então não se preocupa com isso. Porém, ele é capaz de perceber o comportamento negativo dos adultos e pode desenvolver ansiedade e ter seu comportamento afetado de diversas maneiras.
  • Entre 3 a 5 anos: neste período, a criança já relaciona a morte com algo triste e ruim, mas algumas acham que a morte é algo reversível e que, no futuro, o falecido pode voltar.
  • Entre 5 e 7 anos: nestas idades, algumas perguntas profundas podem surgir, como “para onde a pessoa vai?”. Alguns imaginam a perda de alguém como algo mágico ou fantasmas.
  • Entre 7 a 10 anos: aqui, as crianças já têm mais clareza e sabem que a pessoa não voltará, mas algumas podem desenvolver bloqueios emocionais, o que pode ser perigoso.
  • Entre 10 a 12 anos: por fim, nesta fase é esperado que aceitem a morte como algo natural, portanto, é possível ter uma conversa mais sincera.

Dessa forma, a conversa deve ser adaptada de acordo com a idade de cada criança, sempre com atenção para que as informações sejam compreensíveis para cada uma.

Em fala destacada pelo Jornal da USP, a Universidade de São Paulo, a doutora em psicologia  Érika Arantes de Oliveira Cardoso destaca que os adultos não devem “forçar que ela entenda algo que ainda não está preparada para entender”. Também, a Dra. Cardoso lembra que a própria capacidade da criança de imaginar é um forte aliada para lidar com o luto.

3. O papel das metáforas e outras imagens

Frases como “O vovô está dormindo para sempre agora” – e suas derivações – são muito comuns em momentos de perda. As metáforas parecem como uma opção mais leve e, possivelmente, menos traumática, mas não é bem assim que acontece.

Especialistas afirmam que, ao usar metáforas do cotidiano para explicar a morte e lidar com o luto infantil, as crianças podem desenvolver traumas.

Segundo o Instituto de Psicologia da USP, é importante evitar alguns tipos de metáforas. Por exemplo, ao falar que a morte é como um “sono eterno”, pode causar incompreensão ao se confundir com o sono diário.

Isso também acontece ao falar que o ente querido está em uma viagem eterna. Muitas crianças acabam comparando com as viagens nos finais de semana ou das férias da escola, ou seja, com ida e volta.

Dessa forma, o que tinha como objetivo diminuir a dor do luto infantil, pode causar dificuldades de compreensão quando não utilizada da maneira correta.

Quando dizemos que algum parente “foi viajar”, a criança pode associar viagens ao fato de que nunca há retorno. Ou, então, no exemplo acima, criar medo do sono.

Por isso, a ideia é ser claro, mas sem a necessidade de forçar a barra ou levar a conversa para um ponto além das capacidades de compreensão da criança naquela idade.

Associar a vida e a morte com fenômenos naturais, por exemplo, pode ser um caminho mais interessante. Quanto mais a criança estiver acostumada com o fato de que, assim como a vida, a morte é inevitável, menor será o trauma em receber a notícia.

4. Não existe “idade certa”

É muito difícil – ousamos dizer, impossível – padronizar ou adiantar uma faixa etária na qual as crianças já “estão prontas” para receber notícias de que alguém morreu. Você mesmo tem dificuldades, certo? Todos temos.

Nos primeiros anos de vida, obviamente, é natural que ainda não haja compreensão a respeito desses fatores, mas, a partir de meados dos 4 anos, as crianças já começam a ter mais noção do que é a vida e como ela funciona. Muito disso acontece em razão do maior acesso ao mundo e à informação (na escola, por exemplo).

Por isso, não é interessante esperar demais. O desejo de proteger os pequenos pode fazer com que a criança tenha acesso a informações do tipo a partir de coleguinhas, leituras ou até mesmo outros adultos que não souberam explicar da maneira ideal.

Portanto, o ideal mesmo é encontrar opções de adaptar “o que é a morte” de acordo com a idade de cada criança, como falamos acima, a fim de reduzir as dores do luto infantil.

5. Não é preciso esconder os sentimentos no luto infantil

Uma reação natural – e compreensível – ao passar por momentos de luto, é esconder ao máximo todo o turbilhão de sentimentos para que, dessa forma, as crianças não “sintam demais” ou fiquem traumatizadas.

Independentemente da idade, mentir e dissimular dificilmente será a melhor opção.

Ao inventar uma história ou deixar de contar que o ente querido não retornará, o adulto pode prejudicar o processo de luto infantil de uma maneira saudável. Além disso, a quebra de confiança pode ser um processo especialmente traumático para a criança. Assim como é para nós, adultos, uma vez que certos laços de confiança são rompidos, dificilmente podem ser plenamente restabelecidos.

Falar sobre tristeza, saudade e a vida como um todo faz com que elas se sintam protegidas e acolhidas.

Quando existe muito distanciamento, mesmo que você não consiga perceber, existem muitas chances de os pequenos sentirem ainda mais medo da morte, afinal, ela será vista como um grande mistério.

Outro ponto importante é criar o espaço e as condições para que a criança se expresse. Deixe ela dizer o que está sentindo e estimule conversas verdadeiras, sempre com muito cuidado e afeto.

É difícil prever o comportamento humano como um todo, mas existem grandes possibilidades desse sentimento ser refletido na escola ou nas relações sociais em geral.

Não espere reações específicas: cada ser humano é único e tem sentimentos singulares. Crianças são seres imersos em um processo de desenvolvimento mais intenso, então, é ainda mais difícil prever as reações dos pequenos!

Portanto, falar a verdade é bom, inclusive, para que a criança possa participar de uma cerimônia de despedida e prestar alguma homenagem.

No final de tudo, acima de todos os conselhos e indicações de especialistas, é fundamental mostrar que elas não estão sozinhas e que existe felicidade e vida após momentos de luto.

6. Não é preciso esperar uma morte para falar sobre a morte

Outro ponto relevante nesta conversa é sobre quando e como falar sobre a morte com as crianças, mesmo que não haja um óbito no círculo social do pequeno.

Filmes, livros infantis e jogos de videogame (falaremos mais sobre estes mais adiante) podem dar aos pais ou responsáveis a oportunidade de ir introduzindo o tema aos poucos e de maneira bastante saudável e apropriada para a idade da criança.

Psicólogos e psicopedagogos não são totalmente unânimes sobre a partir de qual idade é possível – ou devido – introduzir este debate. Muitos citam a faixa a partir dos 4 ou 5 anos. 

Ao assistir uma animação em que um personagem morre, por exemplo, é possível abrir um canal de diálogo com a criança, perguntando a ela como ela se sentiu em relação àquilo, o que ela entendeu da cena, o que aconteceu com tal personagem.

De maneira geral, há duas ideias centrais que são importantes de serem introduzidas: inevitabilidade e permanência.

Ou seja, primeiramente a morte é inevitável, faz parte da nossa vida, assim como faz parte da vida dos animais e das plantas: é natural. Em segundo lugar, a morte é permanente, diferentemente de quase todas as outras coisas, que podem ser mudadas, transformadas, trabalhadas. 

Importante notar que não estamos, aqui, entrando em um debate espiritual ou religioso. A ideia de permanência é importante para que a criança, ao lidar com a morte, seja de uma pessoa amada ou mesmo de um animal de estimação, entenda que a morte é algo permanente neste plano em que vivemos. 

Isto é importante, inclusive, para que a criança não se martirize com ideias de barganha, como se afligir rezando ou fazendo promessas à espera de que a pessoa que morreu retorne para a sua vida. 

Atividades para trabalhar o luto infantil

Trabalhar o luto é um conceito bastante empregado na psicologia, especialmente a partir dos trabalhos do pai da psicanálise, Sigmund Freud.

Falamos em “trabalhar” o luto pois Freud e outros estudiosos da mente humana propuseram a ideia de que a experiência do luto é ativa. É algo que precisamos experimentar de maneira ativa, tomando atitudes para que passemos por ele e sejamos capaz de superá-lo. 

No mesmo sentido, não existe certeza de que vamos superar o luto e, exatamente por isso, é necessário trabalhá-lo, agir de maneira ativa. Abaixo, falamos de algumas maneiras de trabalhar o luto infantil.

Recorde os bons momentos

Para confortar alguém de luto, em especial a criança que está passando por um momento de luto, uma boa opção é lembrar do ente querido de uma maneira positiva. Isso fará com que ela pare de pensar na perda em si e foque na lembrança dos bons momentos.

Escrever uma carta, fazer um desenho ou relembrar boas histórias são bons caminhos para ressignificar a dor.

Evitar pensar no ente querido pode gerar um bloqueio emocional na criança, fazendo ela guardar todos os sentimentos para si, o que nunca é bom.

O objetivo é reduzir os sentimentos ruins, abrindo espaço para o amor, o carinho e a saudade de forma natural e saudável.

Utilize recursos lúdicos

Uma boa opção para lidar com o luto infantil é utilizar recursos lúdicos, como livros, filmes e músicas.

Além do entretenimento em si que pode amenizar a dor, é uma maneira de fazer a criança entender um pouco mais sobre a perda de um ente querido.

Ao assistir ou ler uma obra, o pequenino se coloca no lugar do personagem principal e pode, ao final da história, entender a como superar uma perda.

“UP – Altas Aventuras” e “Rei Leão” são ótimos exemplos de filmes que ensinam a lidar com o luto, principalmente para o público infantil, uma vez que são duas animações.

Se você ou a criança gosta mais de leitura, separamos alguns livros que falam sobre perdas e superação:

  • A Montanha Encantada dos Gansos Selvagens
  • Cadê Cotó?
  • A História de uma Folha
  • O Medo da Sementinha
  • O Poeta e o Passarinho

Se necessário, conte com a ajuda de especialistas e com a psicoterapia

Caso você perceba que a criança não está lidando bem com a situação, que os reflexos da perda estão além do previsto, além do apoio familiar, é fundamental contar com ajuda especializada. Há psicólogos e psiquiatras que podem ajudar, inclusive com especialistas em luto infantil.

Para entender se é necessário ou não, é importante ficar atento aos sinais. Confira algumas mudanças comportamentais para ficar atento:

  • Choros incompreendidos
  • Criança mais irritadiça
  • Interação social prejudicada, como não querer brincar ou conversar com outras pessoas
  • Mudanças na rotina, como não querer dormir ou fazer xixi na cama
  • Ter muito medo do escuro, chegando a causar ansiedade e pânico
  • Dificuldade para ficar sozinho em qualquer ambiente
  • Rendimento escolar prejudicado

Ao perceber qualquer um desses sinais na fase do luto infantil, é muito importante procurar a ajuda de um profissional.

O psicólogo ou psiquiatra podem oferecer acolhimento de forma profissional, a fim de reduzir o sofrimento e não permitir que a dor atrapalhe o desenvolvimento da criança.Se você gostou deste conteúdo sobre luto infantil, siga nossas redes sociais! Estamos no TikTok, Facebook e Instagram.

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