A cultura na América Latina costuma ser muito forte: aqui no Brasil temos o carnaval, festival de Parintins e inúmeras outras festas e celebrações culturais. Mas, é claro, essa não é uma característica apenas dos brasileiros: no México, tradições que encantam o mundo são muito populares, como o “día de los muertos”, o dia dos mortos dos mexicanos.
Sim, outros países têm uma data para celebrar o dia dos mortos, como nós aqui no Brasil que reservamos o dia 2 de novembro para finados. Mas os mexicanos levam esse significado para um outro nível: a celebração, repleta de cores e simbolismo, é uma homenagem aos entes queridos que já se foram.
Mas como eles conseguem mostrar que a memória e o amor transcendem a morte de quem amamos? O que acha de fazer uma viagem histórica — e cultural — para o México e entender os motivos que tornam o “dia de los muertos” tão importante para eles? Continue a leitura e confira!
O que é o “día de los muertos”?
O “día de los muertos”, ou dia dos mortos, é uma festividade tradicional mexicana que ocorre anualmente nos dias 1 e 2 de novembro. Diferente do que muitos podem pensar por conta do nome, não se trata de um evento sombrio ou triste: pelo contrário, é uma celebração alegre que visa lembrar e honrar os falecidos.
Nesse período, os mexicanos acreditam que os espíritos dos seus entes queridos que morreram retornam ao mundo dos vivos para visitar seus familiares e amigos. O dia 1º de novembro é conhecido como “día de los inocentes” ou “día de los angelitos”, dedicado às crianças falecidas.
Já o dia 2 de novembro é o oficial “día de los muertos”, focado nos adultos. As famílias preparam altares, conhecidos como “ofrendas”, decorados com fotos, comidas favoritas dos falecidos, flores, velas e outros itens simbólicos. Além disso, grande parte da população costuma sair às ruas para celebrar.
Quando e como a tradição do dia dos mortos surgiu?
Mas para entender como essa tradição é importante no México, é preciso fazer uma viagem no tempo: afinal, a origem do “día de los muertos” remonta às civilizações pré-hispânicas, como os astecas, maias e purépechas, que tinham uma visão cíclica da vida e da morte.
Essas culturas realizavam rituais para honrar os mortos, acreditando que a morte era uma parte natural do ciclo da vida e não o fim. Enquanto outros países costumam lidar de forma mais negativa com a morte, desde sempre os mexicanos encaram a experiência como uma passagem e algo para se celebrar periodicamente.
Mas foi com a chegada dos espanhóis — e a introdução do catolicismo — que essa festividade passou por um sincretismo cultural, mesclando elementos indígenas com a tradição cristã do Dia de Finados. Assim, o “día de los muertos” ganhou a forma que conhecemos hoje, unindo rituais ancestrais com a devoção católica.
O que é típico do “día de los muertos”?
Agora que você já entendeu como o dia dos mortos entrou na cultura mexicana, é hora de se aprofundar no que acontece durante o “día de los muertos”. Vamos lá?
O altar
O altar, ou “ofrenda”, é o coração da celebração. As famílias montam altares em suas casas ou em cemitérios, decorados com fotografias dos falecidos, velas, incensos, alimentos e bebidas favoritas e outros objetivos pessoais dos entes queridos. Cada item no altar precisa ter um significado especial.
Por exemplo, as velas representam a luz que guia os espíritos de volta ao mundo dos vivos, enquanto o “pan de muerto” é um pão doce tradicionalmente colocado no altar que simboliza a generosidade do anfitrião e a dádiva da terra. Além disso, os altares são decorados com papel picado, representando a fragilidade da vida.
As caveiras
Se o altar é o coração da celebração, as caveiras, obviamente, são o rosto. Quando se fala no “día de los muertos”, é natural pensar nas pessoas com fantasias com as “calaveras” andando pelas ruas. Mas o que pouca gente sabe é que elas podem ser feitas de açúcar, chocolate ou cerâmica, sempre com cores vivas.
As mais comuns são as “calaveras de azúcar”, que costumam ter os nomes dos falecidos escritos nelas, sendo colocadas nos altares como oferendas. Além das caveiras de açúcar, as pessoas também se pintam como caveiras, uma prática que celebra a morte de maneira alegre e acolhedora.
Oferendas
Além dos alimentos e bebidas, as oferendas incluem itens como brinquedos para as crianças falecidas, pertences pessoais, e objetos que os mortos apreciavam em vida. As oferendas são uma maneira de demonstrar amor e respeito pelos falecidos, garantindo que suas almas se sintam bem-vindas e lembradas.
Outros elementos comuns nas oferendas incluem o copal (um tipo de incenso) que é usa-de para limpar o ambiente de espíritos malignos, e sal, que serve para purificar e proteger as almas.
Arranjos de flores
Não podemos falar em morte sem mencionar flores, não é mesmo? No México, elas também têm uma importância muito grande, especialmente as calêndulas (ou “cempasúchil” em espanhol). As pétalas são espalhadas no chão para criar trilhas que guiam os espíritos até as “ofrendas” das suas famílias.
Por que essa flor? Por conta da cor laranja brilhante, elas têm o papel de decorar os altares e as tumbas, além da cultura de que as suas cores vibrantes e forte aroma ajudam a guiar os espíritos de volta ao mundo dos vivos. Além das calêndulas, outras flores como crisântemos e lírios também servem para decorar altares e tumbas.
La Catrina
Outra parte importante do dia dos mortos no México é La Catrina, uma figura criada pelo artista José Guadalupe Posada: uma elegante dama esquelética vestida com trajes da alta sociedade. Ela simboliza a morte e a crítica social, lembrando que, independentemente de status ou riqueza, todos acabarão no mesmo destino.
O sucesso é tanto que ela se tornou um símbolo cultural que transcende o “día de los muertos”, representando a aceitação e o respeito pela morte na cultura mexicana. E é por isso que o seu uso em desfiles e celebrações enfatiza a mensagem de que se pode encarar a morte com humor e respeito, sem temor.
Visita aos cemitérios
Durante o “día de los muertos”, é comum que as famílias visitem os cemitérios para decorar as tumbas com flores, velas e oferendas. Além disso, outra das tradições é passar a noite no cemitério, lembrando histórias, cantando e celebrando a vida dos falecidos.
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Desfiles e celebrações públicas
O foco do “día de los muertos” está nas celebrações familiares, mas também tem bastante espaço para festividades com toda a população. Especialmente na capital Cidade do México, são realizados grandes desfiles para comemorar a data, com dançarinos, músicas, carros alegóricos e pessoas fantasiadas.
Esse costuma ser um momento de festa e alegria, onde a comunidade se reúne para celebrar a vida e a memória dos entes queridos. Esses eventos públicos são uma forma de partilhar a cultura e as tradições com um público mais amplo, tanto nacional quanto internacional.
6 curiosidades sobre o “día de los muertos”
Foto por Miguel Arzola via Flickr | CC BY-ND 2.0
Além de entender o que acontece durante o dia dos mortos no México, é normal ter algumas dúvidas e curiosidades sobre essa festividade, não é mesmo? Por isso, separamos o que tem de mais interessante no “día de los muertos”!
1. Patrimônio cultural
Em 2008, a UNESCO reconheceu o “día de los muertos” como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, destacando sua importância cultural e histórica.
2. Altares em espaços públicos
Além dos altares familiares, é comum encontrar “ofrendas” em espaços públicos, escolas, e locais de trabalho, mostrando que a celebração é coletiva.
3. Calaveritas literárias
São poemas humorísticos que satirizam situações da vida cotidiana, muitas vezes escritas em forma de epitáfios fictícios. Essas “calaveritas” brincam com a morte de maneira leve e engraçada, refletindo a atitude mexicana de rir na face da morte.
Elas podem ser dedicadas a amigos, familiares ou figuras públicas, sempre com um tom de humor e ironia. Além de serem publicadas em jornais e revistas, costumam ser recitadas em eventos e competições durante a celebração.
4. Comida típica
Via Wikimedia Commons | CC BY-SA 4.0
A comida também tem um papel muito importante no “día de los muertos”: além do “pan de muerto” (foto), pratos como “tamales”, “mole”, “atole” e “chapulines” (gafanhotos) são preparados e compartilhados entre familiares e amigos. Essas refeições não só honram os mortos, mas também fortalecem os laços entre os vivos.
5. Influência internacional
A tradição do “día de los muertos” tem ganhado popularidade fora do México, sendo celebrada em várias partes do mundo. Em cidades com grandes comunidades mexicanas, como Los Angeles e Chicago, as celebrações incluem desfiles, exposições de arte e festivais de música.
Além disso, a cultura pop, através de filmes, como “Coco” da Disney (Viva – A Vida é uma Festa no lançamento brasileiro), ajudou a espalhar o conhecimento sobre essa festividade, introduzindo seus símbolos e significados a um público global. Uma influência internacional que promove um maior entendimento e respeito pela cultura mexicana.
6. Artesanato
Muitos artesãos criam obras de arte inspiradas na festividade, desde cerâmicas a pinturas, refletindo a riqueza cultural do evento. O artesanato do “día de los muertos” inclui máscaras, bonecos, bijuterias e peças de cerâmica decoradas com temas da morte.
Essas peças são vendidas em mercados e feiras durante a celebração, permitindo que visitantes levem um pedaço da tradição para casa. Além de sua beleza estética, esses objetos artesanais carregam significados profundos e são usados para decorar altares, casas e espaços públicos, contribuindo para a atmosfera da celebração.
Em resumo, por mais que o nome passe uma ideia de tristeza e comoção, o “día de los muertos” é uma celebração profundamente enraizada na cultura mexicana, repleta de simbolismo e emoção. Mais do que uma oportunidade para lembrar os que partiram, é a hora de celebrar a vida e os laços que transcendem a morte.
Mas essa é apenas uma perspectiva cultural de como lidar com a perda de alguém que você ama e se importa, não é mesmo? Por isso, se você se interessou pelo assunto e quer saber mais sobre outras visões, confira a nossa lista com 13 filmes sobre luto, perdas e recomeço!