Para você a morte é o fim ou uma passagem? Bem, para os budistas a morte é parte de um ciclo, de algo contínuo. Ou seja, nem o fim, nem uma etapa ou passagem para a vida após a morte. Hoje falamos sobre a ideia de morte e os rituais fúnebres no budismo, religião (ou filosofia, a depender do ponto de vista) muito popular na Ásia, mas também com boa presença nas Américas e Europa.
Este o primeiro artigo da série Zelo Pelo Mundo, onde pegamos as malas e partimos para uma jornada de descoberta sobre como outros povos, culturas e fés experienciam e encaram a morte.
O budismo e a morte
Antes de adentrarmos no nosso tópico principal, os rituais fúnebres do budismo, vale entender um pouquinho melhor o que é a morte no budismo.
A visão budista da morte é bastante diferente daquela mais comum entre cristãos. Ou mesmo da visão de outras práticas como as religiões afro-brasileiras, islâmicas, judeus ou espíritas.
Para os budistas, a morte é parte de um ciclo contínuo, que pode durar séculos, milênios ou toda uma eternidade imensurável. Isto é devido à crença budista chamada de Sansara, um conceito presente no budismo (e também no hinduísmo e outras fés).
Resumindo muito, é a crença de que é inerente a todos os seres vivos viver um ciclo de nascimentos e renascimentos. Este tem seis caminhos, ou possibilidades, que são influenciadas pelo nosso carma (você já ouviu essa palavra, certo?).
Esses caminhos incluem renascer como uma divindade, uma semi-divindade, humano, animal ou tipos de seres “inferiores”, que poderiam ser descritos como fantasmas e criaturas “demoníacas”. É claro, os termos usados aqui são aproximações com a nossa cultura. Então, é o seu carma, positivo ou negativo, que influencia como você renascerá.
Assim, para os budistas, morrer não é o fim, nem tampouco significa esperar o fim dos tempos ou a vinda de Deus. Para eles, morrer é simplesmente renascer. O renascimento em algumas crenças é imediato, em outras leva 49 dias. Nas tradições que acreditam que este processo leva 49 dias é comum realizar cerimônias e preces de sete em sete dias, até que se complete o ciclo.
De toda forma, o ciclo de renascimentos segue até que se consiga alcançar o nirvana, o estado de libertação de todo o sofrimento – e outra palavra que você já ouviu, não é mesmo?
Você também pode gostar: O Que Fazer Quando Alguém Morre? Passos Práticos, Questões Legais e Burocracia
Preparativos e cerimônias nos rituais fúnebres do budismo
Primeiramente, a cremação do corpo é a prática mais comum e preferencial entre budistas, ainda que algumas tradições tenham o hábito de enterrar seus mortos. Existe uma terceira possibilidade, que é o chamado enterro celestial, praticado em algumas poucas regiões e tradições budistas. No enterro celestial, ao invés de enterrar ou cremar o corpo, ele é deixado para se decompor a céu aberto. Normalmente, isso é feito em um ponto isolado de uma montanha.
A prática – rara em sociedades budistas mais urbanas e modernizadas – tem como princípio que, assim, o corpo serve de alimento para a terra, a natureza e os animais, particularmente aves. Este é visto como um destino nobre para o corpo, já que a essa altura o corpo é um receptáculo vaizo.
Porém, antes disso tudo há o processo de limpeza e banho do corpo e, claro, um serviço memorial.
Este serviço inclui uma série de práticas como cantos, orações e, claro, meditação. Os cantos e orações, em muitas tradições, aparecem na forma das famosas sutras, que são recitadas. Se você tiver curiosidade, pode ouvir uma dessas sutras no vídeo abaixo. Esta é a Sutra do Coração, em tradução para o português.
Após a sutra, é comum que os familiares e pessoas próximas ao falecido tenham a voz para uma última palavra e oração.
Oferendas, como flores e incensos, são comuns também. De modo geral, se trata de uma série de práticas com o objetivo de homenagear e celebrar a vida e o renascimento da pessoa que se foi.
Dana
No budismo, se dá o nome de “dana” à prática de compartilhar e ser generoso. Esta prática pode ser incentivada como parte das cerimônias e rituais fúnebres do budismo. Isso pode vir, por exemplo, na forma de doações em nome do falecido.
Bardo
O bardo não é presente em todas as tradições e rituais fúnebres do budismo, mas é bastante comum em algumas, como no budismo tibetano. Trata-se de um conjunto de práticas com foco no renascimento – na próxima vida do falecido. Isto pode incluir orações e consensos específicos.
Leia também | Carpideira: Conheça a História das Profissionais Contratadas Para Chorar em Velórios
As cerimônias e rituais fúnebres no budismo – considerações finais
Pela própria natureza da visão budista, a morte pode adquirir peculiaridades. Algo que não comentamos, por exemplo, é que morrer em paz, tranquilo e sem aflições, é algo valorizado, que ajuda no carma.
Porém, ao final, as práticas e rituais fúnebres do budismo podem nos soar estranhas, diferentes, mas compartilham algo que quase todas compartilham: são um momento de cultivar a compaixão com aqueles que ficam e rememorar e homenagear aquele que partiu.
Se você gostou dessa leitura e se interessa pelo tema, siga o Grupo Zelo nas nossas redes sociais e assine nossa newsletter no rodapé desta página. Estamos no TikTok, Facebook e Instagram.