Vida Após a Morte: 21 Respostas de Diferentes Fés e Filosofias

Será correto dizer que todos, absolutamente todos, seres humanos já pensaram sobre a vida após a morte? Se há vida após a morte e como é esta é uma das mais antigas questões enfrentadas por nós, humanos. 

Para falarmos sobre um assunto tão complexo e que desperta tantas paixões, convidamos você, amigo leitor, a embarcar conosco em uma viagem não só pelo mundo, mas também pelo tempo.

Sim, um convite. Este não é um artigo para responder se há vida após a morte e como é a vida após a morte, mas um simples convite para conhecermos como diferentes povos, crenças e pessoas ao longo da história e ao redor do mundo pensam a vida após a morte.

Esta lista inclui algumas das maiores religiões do mundo e outras menos conhecidas aqui no Brasil, outras crenças que não se consideram como religiões e, também, o que alguns dos maiores filósofos e correntes do pensamento na história pensavam sobre o assunto.

Antes de embacarmos, vale a pena fazer dois avisos. O primeiro é que este artigo não se propõe a explicar toda a visão dessas crenças sobre a vida após a morte. Cada uma delas tem suas visões complexas e cheias de detalhes, debates e discussões. Mesmo entre cristãos ou entre judeus, por exemplo, há pontos que causam discordância.

O segundo é que ao falar sobre as diferentes visões sobre a vida após a morte nas religiões, muitas vezes é inevitável falar sobre a chamada “escatologia”. Este é o nome que se dá, na teologia, ao campo que se dedica aos temas do fim dos tempo, fim do mundo, dia do julgamento ou como queira chamar. Então, de uma forma ou outra, este texto aborda também estes assuntos.

Por fim, por isso tudo, os temas aqui discutido e conversados podem ser sensíveis para alguns leitores.

Esperamos que seja uma boa viagem por uma das maiores questões de todos os tempos. Todos a bordo?

A vida após a morte segundo 15 religiões e crenças

Para a primeira parte deste artigo vamos olhar 15 religiões, fés ou crenças – entendendo que nem todos os termos que citamos aqui se enquadram no conceito de religião ou preferem não ser chamados assim.

Também, vale destacar, trata-se apenas de uma introdução às visões compartilhadas por essas fés para algo tão complexo.

Cristianismo

“Adoration of the Lamb,” by Jan van Eyck, 1432
“Adoration of the Lamb,” by Jan van Eyck, 1432

Você provavelmente é bastante familiar com as ideias cristãs em relação à vida após a morte, certo?

No Cristianismo, de maneira bastante geral, a vida após a morte é vista como a continuação da existência da alma em um estado eterno. As crenças variam entre as denominações, mas geralmente incluem a ideia de céu, onde os justos desfrutam da presença de Deus, e inferno, onde os pecadores enfrentam punição eterna. Alguns cristãos também acreditam em um estado intermediário chamado purgatório, onde as almas são purificadas antes de entrar no céu.

Uma grande questão de debate histórico entre teólogos e estudiosos do cristianismo diz respeito ao tempo das coisas aqui descritas. Ou seja, enquanto alguns estudiosos da Bíblia acreditam que o destino da alma é decidido imediatamente após a morte, outros acreditam que a alma fica em um tipo de estado intermediário entre a morte e o juízo final – e apenas após o juízo final se dá o destino da alma.

Em sentido similar, existe também a ideia de que a alma permanece adormecida entre a morte e o juízo final. Estas questões são discutidas há muitos séculos dentro da chamada escatologia cristã – os estudos do fim dos tempos.

Islamismo

"Iskandar Oversees the Building of the Wall", Iranischer Meister, circa 1550
“Iskandar Oversees the Building of the Wall”, Iranischer Meister, circa 1550

A visão islâmica da vida após a morte não soa estranha para quem está acostumado com a visão do cristianismo sobre o mesmo tema.

Os muçulmanos creem no Dia do Juízo ou Julgamento (chamado de Qiyamah) e, neste dia, as almas serão julgadas por suas ações em vida, separando-se aqueles que vão para o Jannah (similar ao paraíso) e aqueles que enfrentarão a punição do Jahannam (similar ao inferno). Também existe a crença em um terceiro espaço, que é onde se aguarda o Dia do Juízo.

Judaísmo

O Judaísmo tem várias perspectivas sobre a vida após a morte, dependendo das tradições e interpretações. 

Alguns acreditam em uma vida após a morte onde as almas são recompensadas ou punidas de acordo com suas ações, enquanto outros veem a vida após a morte como um mistério, focando mais na importância de viver uma vida justa nesta existência.

Como veremos ao longo do artigo, em muitas das crenças que comentamos aqui não existe uma visão única sobre a vida após a morte, mas sim interpretações diversas e debates antiquíssimos entre crentes e estudiosos.

Hinduísmo

No Hinduísmo, a vida após a morte é vista como parte de um ciclo contínuo de reencarnação (samsara). As almas passam por nascimentos e mortes, ciclos que são determinados pelo karma, até alcançarem a libertação (moksha).

O karma, por sua vez, é um conceito bastante usado na nossa cultura e já dá uma dica de sua lógica: nossas ações em vida, positivas ou negativas, se somam e subtraem destino nosso destino na próxima vida.

Budismo

A visão majoritária do budismo tem muitas semelhanças com o hinduísmo. Também no budismo há a ideia de ciclo de renascimento (samsara), mas aqui  as almas continuam a renascer até alcançarem a iluminação (nirvana).

Também é o karma que decide seu destino, sua próxima parada, neste ciclo de renascimentos.

Sikhismo (ou siquismo)

a vida após a morte. sikh. crianças sikhs com turbantes laranjas.

O ciclo de renascimento também é um ponto central da fé dos sikhs sobre a vida após a morte. 

Na crença sikh, no entanto, a libertação da alma significa a união com Deus (Waheguru), que é alcançada por meio das ações em vida.

Taoísmo

“Taoísmo” pode se referir tanto a uma crença religiosa quanto a uma corrente filosófica. Como crença espiritual, o taoísmo tem algumas visões distintas sobre a vida após a morte, mas aquela principal diz que as ações de boa virtude levam a alma para mais perto do Tao, que é a fonte cósmica de tudo e todos.

Xamanismo

Xamanismo é o que podemos chamar de “termo guarda-chuva”. Ou seja, uma série de crenças distintas entre si costumam ser agrupadas dentro deste grupo. Logo, são muitas as visões sobre a questão da vida após a morte dentro das fés xamânicas.

Uma ideia recorrente, no entanto, é a crença em um mundo espiritual, onde após a morte nos reunimos com nossos ancestrais e guias e tem-se seguimento a jornada espiritual.

Wicca

a vida após a morte na wicca. imagem traz elementos de um ritual wicca. vê-se uma vela, cogumelo, um pequeno baú, maçãs e ervas. o cenário é um bosque

A Wicca é uma crença neo-pagã que ganhou alguma popularidade nas últimas décadas, especialmente por ser bastante representada em filmes, séries e afins.

A questão da vida após a morte é aberta e bastante debatida na Wicca, indo desde praticantes que acreditam que existe uma vida no chamado Outro Mundo até aqueles que defendem que a questão da vida após a morte não deve ser central na prática da Wicca.

Zoroastrismo

O Zoroastrismo, religião surgida no atual Irã, é uma das mais antigas religiões dualistas – ou seja, centrada ao redor da crença em forças opostas, uma boa e outra má.

Até por isso, não é de se estranhar que as visões do zoroastrismo sobre a vida após a morte também soam familiares para nós, sendo centrais as ideias de que os justos passarão a vida eterna no paraíso (Garotman), enquanto os ímpios enfrentam punição no inferno (Duzakh)

Espiritismo

Assim como é o caso com outras das crenças que comentamos aqui, falar sobre a vida após a morte no espiritismo é uma conversa muuuuito longa para termos em poucos parágrafos, como neste texto. Afinal, a questão da vida após a morte é central para toda a fé e estudo espírita.

De maneira geral, podemos dizer que há a crença que as almas dos mortos continuam a existir e evoluir. Também, é possível se comunicar com estas. Ou seja, há continuidade e evolução mesmo após a morte.

Rastafarianismo

a vida após a morte no rastafrianismo. homem rastafari aparece em primeiro plano usando turbante, calça jeans e camiseta retrô de futebol. ao fundo, meninas adolescentes na saída da escola

O rastafarianismo é uma religião de raiz judaico-cristã e, como tal, compartilha com estas uma série de visões sobre a vida após a morte.

No entanto, há também diferenças e debates entre os próprios rastafaris. Entre as crenças comuns está a ideia de que não há morte para aqueles que têm fé, mas apenas uma continuidade. Esta crença faz com que muitos rastafaris sejam contra práticas funerais, por exemplo.

Xintoísmo

Na espiritualidade tradicional japonesa, o xintoísmo, é comum que se foque muito mais nas práticas sobre a vida, enquanto às questões sobre a vida após a morte se compartilha de visões budistas.

No entanto, é bastante forte entre aqueles que seguem as práticas xintoístas uma forte crença na presença da alma dos mortos neste plano. Isto leva à prática de rituais e oferendas aos ancestrais e àqueles que partiram. 

As crenças exatas sobre a vida após a morte, no entanto, variam e são objeto de debate entre os xintoístas.

Candomblé

No Candomblé, as crenças sobre a vida após a morte são influenciadas pela religião africana tradicional e pelas práticas sincréticas. Acredita-se em uma jornada espiritual após a morte, onde as almas podem se reunir com seus ancestrais e continuar a influenciar o mundo terreno.

Umbanda

a vida após a morte na umbanda. arte umbandista: três figuras representam dois homens e uma mulher com vestes cerimoniais.
Tânia Rego / Agência Brasil CC2.0

A umbanda também é uma prática sincrética e, como tal, é influenciada por distintas visões sobre a questão da vida após a morte. A ideia de uma jornada espiritual que se segue após a morte, porém, também é presente aqui, assim como a comunicação com os espíritos.

A vida após a morte em 6 correntes ou movimentos filosóficos

É claro que também a filosofia e estudos seculares ou não-religiosos refletiram sobre a questão da vida após a morte.

Novamente, seria impossível explicar em toda sua complexidade como cada um desses movimentos – cada um composto por dezenas ou centenas de autores diferentes – discutiu tal questão. Pretendemos apenas trazer uma rápida visão sobre como alguns dos grandes pensadores da história humana olharam para esta questão.

Existencialismo

São muitas as correntes dentro do que é chamado de existencialismo na filosofia, uma das mais importantes e diversas correntes da história da filosofia. 

Alguns autores importantes ligados ao existencialismo defenderam que a virtude da boa vida está, exatamente, em focar sua prática e meditações não na morte, mas na vida. Outros trouxeram a ideia de que, impossível dar respostas às questões sobre a morte, essas não devem ocupar nossa mente, mas sim nos dedicarmos a quão autêntica e significativa é nossa vida.

Racionalismo

No racionalismo – outra corrente filosófica muito ampla – há muitas vezes a ideia de que as questões sobre a vida após a morte não competem ao campo da filosofia, mas sim exclusivamente ao campo da fé e da metafísica. Ou seja, cabe mais ao homem racionalista se preocupar com a investigação da razão e das coisas materiais.

No entanto, em sua obra “Meditações sobre a Filosofia Primeira”, René Descartes faz referência à ideia da alma como uma substância distinta do corpo. Ele argumenta que a mente ou alma é uma substância distinta do corpo (não-pensante). 

Essa dualidade mente-corpo é uma das principais contribuições de Descartes para a filosofia e levou muitos a especularem sobre uma visão de vida após a morte contida nessa dualidade entre mente e corpo.

Taoísmo Filosófico

As correntes mais filosóficas e menos espiritualistas do taóismo (que já comentamos acima) costumam pensar a vida após a morte sob a perspectiva da aceitação do ciclo de nascimento, vida e morte. 

Ou seja, é mais importante e interessa mais aceitarmos este ciclo e vivermos uma vida em harmonia com o Tao do que nos ocuparmos e com o que vem depois.

Transhumanismo

Você já ouviu falar em transhumanismo? Esta é a corrente filosófica mais recente entre aqueles que abordamos aqui, tendo sido mais consolidada apenas nas últimas décadas.

Os filósofos transhumanistas costumam pensar a questão da vida após a morte pela perspectiva dos avanços das tecnologias e da possibilidade de que esta possibilita que a consciência (o intelecto, a mente) seja separado do corpo no futuro. Isto possibilitaria, de certa forma, a vida (da consciência) após a morte (do corpo).

Na filosofia grega clássica

Tanto Platão quanto Aristóteles discutiram algumas questões relativas à vida após a morte, ou pelo menos relativo à existência da alma e sua imortalidade. Platão, particularmente, escreveu sobre a imortalidade da alma e a crença que a condição deste era influenciada pelas ações em vida. 

Nitianismo ou Niilismo Ativo

Friedrich Nietzsche não se ocupou exatamente de discutir a questão da vida após a morte, mas foi um grande crítico do seu papel social. 

Para Nietzsche, a preocupação com punições e promessas da vida após a morte era uma fraqueza moral, que afastava o homem de viver plenamente sua vida.

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Esperamos que você tenha gostado desta rápida viagem pelas tantas visões, crenças e hipóteses para a vida após a morte. 

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