Todos conhecemos a palavra luto. Mesmo que não tenhamos estudado sobre o tema, sabemos começar a explicar o que significa, certo? Este conjunto de sensações, sentimentos, que sucedem a morte de quem amamos… Porém, é possível que o luto venha antes? Estamos falando sobre o chamado luto antecipatório ou antecipado.
O luto antecipado ou antecipatório se dá quando o luto começa antes da perda. Mas por que isso pode acontecer? Quando isso acontece? O que a psicologia nos diz sobre como lidar com isto? Estes são alguns dos pontos que passamos no texto de hoje.
O que é luto antecipado e quando ele acontece?
Bem, como já adiantamos na introdução deste texto, o luto antecipado é aquele luto que começa antes da perda – normalmente esta perda é a morte de alguém que amamos.
Normalmente, o que acontece é que existe um entendimento de que a perda (morte) da pessoa querida é iminente e inevitável.
Significado de Iminente
adjetivo
Que pode acontecer num momento muito próximo.
Que está prestes a ocorrer; que se pode realizar a qualquer momento: tragédia iminente.
Possivelmente, lendo esta definição é possível que você tenha pensado nos casos de doenças terminais ou quadros médicos que estão se deteriorando.
O objeto do luto (a pessoa doente) ainda vive, mas a sua perda – seu óbito – passa a ser entendido como algo breve e que definitivamente acontecerá. A partir do momento que se perde a esperança na recuperação, então, passa-se a experimentar o processo de luto sem que haja o falecimento.
Bem, este de fato é um exemplo possível e natural, mas a expressão nasceu para definir um caso bastante diferente.
Como surgiu o conceito de luto antecipatório
Acredita-se que o criador da expressão foi o psiquiatra alemão-americano Erich Lindemann. Ele, no entanto, não estava falando do parente de pessoas doentes, mas sim das esposas de soldados que iam lutar na Segunda Guerra Mundial.
Lindemann usou o conceito para explicar porque, muitas vezes, era tão difícil para essas mulheres receberem o marido de volta da Guerra. Ele acreditava que, devido à natureza da guerra, as esposas iniciavam o trabalho de luto mesmo sem notícias do falecimento dos esposos. Ou seja, por esperar que seus maridos não sobrevivessem à Guerra.
Quando o homem, no entanto, voltava da guerra existia, então, uma situação de difícil processamento psicológico. Quase como se ele estivesse voltando dos mortos, afinal.
Apenas a pessoa que fica pode viver o luto antecipatório?
Outro ponto essencial é entendermos que, embora o termo normalmente seja usado para falar sobre a pessoa que fica, ele também pode ser empregado para a pessoa doente. Ou que por um motivo ou outro vislumbra a própria morte.
Este estudo, por exemplo, avaliou pacientes com câncer terminal e a frequência não só com que familiares, mas também a própria pessoa passa a experimentar sintomas de luto. O luto pela perda da própria vida.
Infelizmente, o estudo que citamos acima está disponível apenas em inglês, mas vale a pena dar uma olhada em quais sintomas os pesquisadores usaram para definir um diagnóstico do luto antecipatório. A tradução é da nossa equipe:
- Paciente e familiares demonstram sentimentos refletindo sobre a perda
- Pacientes e familiares passam a manifestar sinais de luto
- Negação da perda; Tristeza; Choro; Culpa; Raiva ou hostilidade; De barganha; Depressão
- Aceitação; mudança nos hábitos alimentares, Alterações nos níveis de atividade; Alteração na libido
- Alteração nos padrões de comunicação; Medo, Falta de Esperança, Distorção da realidade.
A principal conclusão da pesquisa foi que o luto antecipado, considerando estes critérios, é mais comum entre pessoas mais jovens (especialmente abaixo dos 25 anos). Isso vale tanto para pacientes quanto para familiares.
Situações que podem levar ao luto antecipatório / antecipado
A esposa que vê o marido ir para a guerra e a pessoa que assiste a pessoa amada enfrentar uma doença terminal são dois exemplos, mas há muitos outros casos. Vamos olhar para alguns deles.
— Doenças degenerativas, mesmo que principalmente das capacidades psíquicas
O luto antecipatório é bem relatado em casos que se lida com doenças como, por exemplo, Alzheimer. Em alguns casos se observa que os sintomas do luto são desencadeados mesmo com a doença em estágio inicial.
— Iminente amputação de um membro
Casos em que a pessoa sabe que haverá, por exemplo, a necessidade de amputar uma perna e passa a experimentar o luto antecipado pela perda dessa parte de si.
— Diagnóstico de uma doença congênita em exames durante a gestação
Sintomas de luto podem ser observados mesmo em caso que a doença, síndrome ou condição congênita diagnosticada não seja falta.
– Situações que mesmo não envolvendo nem morte nem enfermidades levam à projeção da perda
Imagine uma criança que ama a cidade em que mora, a escola em que estuda e os amigos que tem… Esta criança recebe a notícia que em um ano, por exemplo, toda a família se mudará para outra cidade, estado ou até país. Esta criança, então, passa a experimentar sintomas comuns a alguém enlutado. Este também é um exemplo possível de luto antecipado.
Como lidar com o luto antecipatório?
Não existe uma resposta fácil para um assunto tão difícil e doloroso. Além disso, estamos falando aqui de uma variedade de situações muito diferentes entre si.
A psicologia tem, no entanto, alguns caminhos.
Não se culpe
A auto-culpabilização não tende a ajudar. O processo de luto é normal, humano. Se culpar tende a tornar tudo ainda mais difícil.
Trabalhe o luto, viva no presente
Se o luto antecipado vem da morte iminente de alguém querido, há como encontrar maneiras de trabalhar o luto – você encontra uma lista de atividades neste link.
Porém, no caso do luto antecipatório é possível optar por trabalhá-lo vivendo o presente. Faça as atividades possíveis com a pessoa, aproveite o tempo ao máximo, ressignifique momentos, mesmo os mais duros.
Prepare-se
Embora seja mais fácil associar o luto à depressão e à raiva, é importante lembrar que a negação também é um sintoma do luto. No caso, se trata do primeiro estágio do luto na teoria dos cinco estágios.
Se preparar para a perda é difícil, mas é um ato de cuidado seja de quem parte ou de quem fica.
Se preparar, neste contexto, pode ter um significado bastante prático e objetivo. Afinal sabemos que a morte traz consigo – além de toda a dor da perda– questões legais e burocráticas.
Organizar documentos e ter uma lista com documentos, apólices e senhas, por exemplo, são formas de se preparar e tornar as coisinhas um pouquinho menos difíceis no futuro. Preparar a despedida final, se planejar para os custos e, se for o caso, garantir que as vontades da pessoa enferma sejam realizadas também são formas de preparação.
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